Irene do Céu Vieira Lisboa nasceu a 25 de Dezembro de 1892 no Casal da Murzinheira, Arruda dos Vinhos, e faleceu em 1958, no dia 25 de Novembro, em Lisboa.
Professora, pedagoga e escritora, formada na Escola Normal Primária de Lisboa, estudou depois em Genebra, especializando-se em Pedagogia e Ensino Infantil, âmbito em que produziu e publicou diversas obras, muitas delas sob o pseudónimo Manuel Soares. Foi professora de educação infantil (ensino primário e pré-primário) e Inspetora Orientadora do ensino primário e infantil, sendo mais tarde colocada na secretaria do Instituto de Alta Cultura. Afastada do serviço público pelas suas ideias inovadoras e que procuravam reformular os parâmetros da educação, é forçada a reformar-se aos 48 anos de idade, dedicando-se, então, apenas à produção literária e pedagógica. Pela sua atividade no domínio da Educação foi postumamente homenageada pela Federação Nacional de Professores, com a criação do Instituto Irene Lisboa em 1988.
No domínio da literatura, a sua produção reparte-se pela poesia e pela prosa, desafiando, muitas vezes, as fronteiras entre os diferentes géneros que cultiva (poesia, conto, crónica e novela) e construindo uma obra marcada por uma forte e articulada unidade em torno das temáticas intimistas e de um nítido cunho autobiográfico. As suas novelas apresentam, para além de um característico estilo fragmentário, uma aguda percepção da sociedade burguesa da época da sua infância e adolescência. Como sublinha Paula Morão no seu texto para o Instituto Camões, Irene Lisboa é “uma consciência dilacerada”, que se apresenta, porém, lúcida do mundo em que vive.
Documentário sobre a vida e obra de Irene Lisboa (1993).
Estreia-se em 1926 com a publicação de um livro destinado ao público infantil, 13 Contarelos que Irene escreveu e Ilda ilustrou para a gente nova, em cujo título está desde logo patente a intenção pedagógica dos textos que o compõem. A poesia aparece em volume com os títulos Um dia e outro dia... – Diário de uma mulher (1936) e Outono havias de vir latente triste (1937), ambos assinados com o pseudónimo João Falco. O mesmo pseudónimo será usado nas obras em prosa publicadas até 1940, data em que Irene Lisboa passa a assinar com o próprio nome.
Colaborou em jornais e revistas como Presença, Sol Nascente e Seara Nova, com textos críticos, artigos e versos. Na sua escrita percebem-se as influências de Camilo Pessanha, Raul Brandão e Fernando Pessoa, mas também de Virgínia Woolf e Katherine Mansfield.
O Professor Rogério Fernandes, ao escrever sobre Irene Lisboa, considera-a um caso exemplar de inteligência crítica: “Nela as teorias passavam pelo filtro da sua própria experiência pessoal, uma experiência que a inteligência, a finura sentimental e a ardência do entusiasmo pelo trabalho educativo tornavam exigente, sensata e operativamente crítica. A sua maior originalidade não reside, pois, na produção doutrinal, mas sim na reiluminação desta pela intuição intelectual vivida.”
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Primeira edição do livro Uma mão cheia de nada outra de coisa nenhuma, com ilustrações de Pitum Keil do Amaral (1955).
Irene Lisboa é uma das personalidades femininas mais injustamente esquecidas da cultura portuguesa, na qual deveria, pelo contrário, ter um lugar de destaque, pela sua inteligência e percepção do momento histórico e da vida quotidiana, de si mesma e dos outros, da Educação e de todas as questões ligadas à evolução dos processos pedagógicos em Portugal. Ao pensar a personalidade de Irene, percebemos a potencialidade do seu humanismo, a sua capacidade criativa e a originalidade, que a colocam como umas das mais importantes escritoras e pensadoras do seu tempo.
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Monumento em homenagem a Irene Lisboa em Arruda dos Vinhos.
Obra:
- 13 contarelos que Irene escreveu e Ilda ilustrou, 1926.
- Um dia e outro dia... - Diário de uma mulher, 1936.
- Outono havias de vir latente triste, 1937.
- Solidão - notas do punho de uma mulher, 1939.
- Começa uma vida, 1940.
- Esta cidade!,1942.
- Uma mão cheia de nada outra de coisa nenhuma, 1955.
- O pouco e o muito - crónica urbana, 1956.
- Voltar atrás para quê?, 1956.
- Título qualquer serve para novelas e noveletas, 1958.
- Queres ouvir? Eu conto - histórias para maiores e mais pequenos se entreterem, 1958; Crónicas da Serra, 1958.
- A vidinha da Lita, 1971.
- Solidão - II, 1974.
- Antologia: Folhas Soltas da Seara Nova (1929-1955), 1986 (organização, prefácio e notas de Paula Morão).