Maria Baptista dos Santos Guardiola nasceu a 13 de janeiro de 1895, em Bragança. Filha de António Augusto dos Santos Guardiola, empregado público e de Maximina Rosa Mendonça, "empregada ao serviço de sua casa".
Ingressou na Universidade de Coimbra no ano letivo de 1914/1915, ano no qual só duas mulheres o fizeram, no 1º ano do Curso de Matemática. Nesta Universidade estudariam vinte e quatro mulheres (Gomes, 1987, p. 34). Maria Guardiola foi contemplada com uma bolsa de estudo, atendendo aos parcos rendimentos da família, expostos no Anuário da UC de 1914/1915 (p. 63), bem como premiando os vinte valores obtidos no exame do Curso Complementar de Ciências do Liceu (Gomes, 1987, p. 35). Depois de terminar o Curso Liceal fez o Curso do Magistério Primário. Desta mesma família de Bragança, foi estudar para Coimbra, neste mesmo ano lectivo, Alice Augusta dos Santos Guardiola, irmã de Maria, que foi cursar Ciências Físico-Químicas. Também foi bolseira pelas mesmas razões da irmã, tendo concluido o exame do Curso Complementar do Liceu com 16 valores
A sua família não tinha rendimentos a não ser os que o pai trazia para casa do seu emprego de "2º aspirante dos correios e telégrafos" (Gomes, 1987, p. 34). As duas irmãs fizeram o Curso juntas, o qual concluiram em 1918/1919. Maria Guardiola obteve as seguintes classificações: (cf. Ciências, Reforma de 1911, Exames singulares e de grupos de disciplinas. (s.d.), Serviços Académicos da UC, Inclui as classificações por disciplina até 1915/1916, p.172 e verso):
1º ano
- Álgebra Superior; Geometria Analítica e Trigonometria Esférica: 18
- Geometria Descritiva e Estereotomia: 18
- Química (Curso Geral): 16
- Desenho Rigoroso (traçado e aguarelas): 16
2º ano
- Cálculo diferencial, integral e das variações: 18
- Geometria Projetiva: 18
- Física (Curso Geral): 16
- Desenho de Máquinas: 17
3º ano
- Análise Superior: 18
- Mecânica Racional: 18
- Astronomia e Geodesia: 18
- Cálculo das Probabilidades: 18
- Desenho Topográfico: 17
4º ano
- Mecânica Celeste: 18
- Física Matemática: 18
Obteve a média final de 18 valores só sendo igualada até 1961/62 por mais duas mulheres: uma em 1949/50 e a outra em 1952/53.
No “Livro de Informações de Bacharelatos da Faculdade de Ciências 1914 a” (p. 172 e verso), Maria Guardiola aparece como bacharel (uma de três alunos, sendo 15 e 19 valores as médias obtidas pelos seus dois colegas homens). O bacharel com média de 19 valores era Gumersindo Sarmento da Costa Lobo que viria a ser professor da Secção das Ciências Matemáticas.
Em 1918/1919, ingressou na Escola Normal Superior - Magistério Liceal, que concluiu no ano lectivo seguinte. Foi, a partir de 1920, professora nos liceus femininos Infanta D. Maria (Coimbra), Almeida Garrett (Lisboa), Carolina Michaëlis (Porto e aqui já efectiva) e Maria Amália Vaz de Carvalho, onde foi Reitora de 1928 a 1946. Exerceu os seguintes cargos no domínio da Educação (Pimentel, 2001, p. 421):
- Vogal do Conselho Superior de Instrução Pública (1930)
- Vice-presidente da 3ª Secção da Junta Nacional de Educação (1936-1940)
- Inspectora do Ensino Liceal (1947-1957)
Foi ainda Inspectora Superior (1956-1963) e Reitora e Presidente do Conselho Administrativo do Liceu Rainha D. Leonor (entre Maio e Setembro de 1949). Em 1963, com quase 70 anos e já aposentada, foi indigitada para a Comissão Permanente das Obras Circum-Escolares e Sociais do Ensino Superior.
No domínio político e das organizações do Estado, foi uma mulher muito presente e digamos eleita (Pimentel, 2001, p.421), já que foi uma das três primeiras deputadas à Assembleia Nacional (AN) (1935-1945) juntamente com Domitila de Carvalho e Maria Cândida de Oliveira Parreira. Nesta qualidade, participou no debate da reforma educativa de Carneiro Pacheco (1936), defendendo o fim das provas orais, o livro único de Leitura, História e de Formação Moral e Cívica, bem como o compêndio único de Filosofia. Foi sempre uma acérrima defensora da orientação do ensino estatal pelos "princípios da doutrina moral e cristã (...)". Mais tarde, em 1952, interveio na AN sobre o analfabetismo aquando da discussão do Plano de Educação Popular e a Campanha Nacional de Educação de Adultos.
No Palácio da Assembleia Nacional, Domitila de Carvalho, Pinto da Mota, Maria Cândida Parreira e Maria Baptista Guardiola. 1935. AN-TT.
Pertenceu à Junta Central da Obra das Mães pela Educação Nacional (OMEN) desde a sua fundação (1936- primeiro como Vogal e depois como Vice-presidente até à extinção, em 1974, quando tinha quase 80 anos). Na OMEN defendeu sempre a «reeducação das mulheres» (Pimentel, 2001, p.421).
Foi indigitada pelo Ministério da Educação Nacional, Comissária Nacional da Mocidade Portuguesa Feminina (MPF), cargo que ocupou de dezembro de 1937 a 1968 e do qual foi exonerada a seu pedido, com mais de 70 anos. Foi este lugar que, diríamos, lhe deu maior protagonismo nacional: defendeu e dirigiu esta organização com carisma fazendo sempre a apologia da "educação integral, moral, cristã e nacionalista das jovens portuguesas para a formação do carácter, o desenvolvimento da capacidade física, a cultura do espírito e a devoção ao serviço social, no amor de Deus, da Pátria e da Família e para o cabal desempenho da missão da mulher na família, no seu meio e na vida do Estado" (Pimentel, 2001, p.421);
Foi membro da Secção Auxiliar Feminina da Cruz Vermelha Portuguesa.
A sua dedicação ao regime e às missões que lhe eram atribuídas foi reconhecida e condecorada por António de Oliveira Salazar com o grau de comendador (1931) e com a ordem de grande oficial da Instrução da Função Pública (1939). Recebeu a cruz Pro Ecclesia et Pontifice (1957) atribuída pelo Papa Pio XII. Em 1966, foi eleita membro honorário da Ordem da Instrução Pública e recebeu a sua Grã-Cruz.
Embora carismática e decisiva na consolidação dos preceitos educativos do EN, Maria Guardiola não deixou "obra publicada a não ser a sua tese de licenciatura sobre O ensino da Aritmética nos liceus e a dissertação Estudo das secções cónicas, apresentada no exame de Estado na ENS (1920?)" (Pimentel, 2001, p.422).
Não casou, não teve filhos e faleceu no dia 27 de Setembro de 1987, com 92 anos.
References
- Maria Baptista dos Santos Guardiola, wikipédia.
- NUNES, João Luís da Costa, As primeiras mulheres Matemáticas na Universidade de Coimbra (licenciadas, assistentes e doutoras) (1891-1986).
Notes
Trabalho de investigação iniciado em 2011 por João Luís da Costa Nunes, licenciado e mestre em Matemática pela Universidade de Coimbra (UC), professor no Agrupamento de Escolas Lima-de-Faria - Cantanhede. Os dados foram recolhidos nos Anuários da UC, em livros de actas referentes a informações de conclusão de Curso, depositados no Arquivo ou nos Serviços Académicos da UC. Foram ainda consultadas certidões de nascimento e fichas individuais de algumas alunas e efectuadas algumas entrevistas às próprias ou a familiares. Todas as informações apresentadas são as que constam dos documentos consultados e que foi possível encontrar.