Guiomar Delphina de Noronha Torresão (1844-1898)
Portuguese Writer, Journalist and Activist

 

Born on the 26th of November of 1844, in Lisbon, Guiomar Torresão affirmed herself as a pioneer in the struggle for women´s rights and female emancipation in Portugal, particularly within the field of the Letters.

She lived her childhood in Cabo Verde, a former Portuguese colony, having returned to Lisbon in 1853, after the death of her father, an event that steered the family into serious financial complications. Consequently, Torrezão was faced with the necessity of having to help support her family, which led her, while still very young, to give primary education and French lessons.

Despite not having the means required to pursue a higher education, she always defended the right and the necessity of women educating themselves, thus calling for a rupture with the then prevalent and unquestionable patriarchal system, and aligning her views with several other women that distinguished themselves in the Portuguese society of the second half of the nineteenth century, among them Antónia Pusich, Maria Amália Vaz de Carvalho and Carolina Michaëlis de Vasconcelos.

Displaying an impressive tenacity, Torrezão penetrated the literary universe, having addressed a plethora of genres – she published works of poetry, short stories, novels and theatre plays -, a curriculum to which one might add the translation of several foreign works and also the collaboration she maintained with various press publications, such as Diário de Notícias, Voz Feminina and Tribuno Popular. When writing for these periodicals, she frequently used a male pseudonym, thus avoiding potential vexations, while also gaining greater recognition, seeing as the literary and journalistic spheres of the time were significantly controlled by male writers, upon whom all social accolades were bestowed.

In 1871, she founded the Almanaque das Senhoras (The Ladies´ Almanac), a publication that she would run until her death and which caused great social impact in the Portuguese society of the time, as its content was proudly and unapologetically directed towards a female audience. Moreover, she recurrently contributed to this publication with poetry, biographical sketches, literary news and opinion articles of her own.

Even in light of such a prolific career, Torresão could not avoid harsh criticism aimed at her work, as was the case with the famous writer Júlio Dantas, who used strong words to describe her endeavors. However, at the opposite side of the spectrum, she also found illustrious supporters, among them Fialho de Almeida and Camilo Castelo Branco, whose compliments spoke volumes of her enormous literary talent.

Among her vast body of work, the novels Uma Alma de Mulher, Rosas Pálidas, A Família Albergaria, Meteoros, Idílio à Inglesa, No Teatro e na Sala, Paris, Batalha da Vida and Flávia stand out, as well as the theatre plays O Século XVIII e o Século XIXÀs Dez da Noite, Amor de Filha and Educação Moderna – all of them staged at various theatres in Lisbon – and the operettas Pela Boca Morre o Peixe and Fúrias de Amor.

In parallel with her literary career, Torresão also proved to be politically active, having urged – through the publication of several articles in the newspapers A Voz Feminina/O Progresso (The Female Voice/The Progress) and in the Almanaque das Senhoras, in addition to her collaboration with the feminist Brazilian magazine A Mensageira (The Female Messenger) – for social transformations that would lead to female emancipation. Moreover, she maintained that gender equality is the true motor of progress and elevation of humanity.

Guiomar Torresão died on the 28th of October of 1898.


Nascida a 26 de Novembro de 1844, em Lisboa, Guiomar Torresão afirmou-se como uma pioneira na reivindicação de direitos de acesso ao espaço público para as mulheres e na luta pela emancipação feminina, particularmente na esfera das Letras.
Viveu a sua infância em Cabo Verde, tendo regressado a Lisboa em 1853, na sequência da morte do seu pai, acontecimento que conduziu a família a graves dificuldades financeiras. Por esse motivo, Guiomar deparou-se com a necessidade de contribuir para a subsistência familiar e acabou por começar, ainda muito jovem, a dar aulas de instrução primária e de francês.
Embora privada de meios e condições que lhe permitissem obter uma educação superior, defendeu sempre o direito e a necessidade das mulheres em se instruírem, procurando assim apelar a uma ruptura com o sistema patriarcal, então inquestionável, e alinhando o seu discurso com várias outras mulheres que se notabilizaram na sociedade portuguesa da segunda metade do séc. XIX, entre as quais se incluem Antónia Pusich, Maria Amália Vaz de Carvalho e Carolina Michaëlis de Vasconcelos. 
Demonstrando uma impressionante tenacidade, Guiomar penetrou no universo literário, tendo-se debruçado sobre uma miríade de géneros – publicou obras de poesia, contos, romances e teatro, entre outros -, currículo a que se acrescenta a tradução de diversas obras estrangeiras e ainda a colaboração com várias publicações de imprensa, nomeadamente o Diário Ilustrado, Repórter, Diário de Notícias, Voz Feminina, Gazeta Setubalense e Tribuno Popular. Ao escrever para estes últimos, recorria frequentemente a um pseudónimo masculino, assim evitando potenciais dissabores e granjeando maior prestígio, uma vez que a esfera literária e jornalística da época era significativamente controlada por escritores masculinos, sobre quem todo o reconhecimento social recaía.
Em 1871, fundou também o Almanaque das Senhoras, publicação que viria a dirigir até à morte e que, por estar assumidamente direccionada para um público feminino, se revestia de contornos bastante arrojados para a sociedade portuguesa de finais do séc. XIX. Aí assinou, com frequência, poesia, esboços biográficos, novidades literárias e artigos de opinião. 
Ainda assim – e mesmo perante uma carreira tão profícua Guiomar não conseguiu evitar pesadas críticas ao seu trabalho, de que são exemplo as duras palavras que Júlio Dantas lhe teceu. No espectro oposto, encontrou também ilustres apoiantes, entre os quais Fialho de Almeida e Camilo Castelo Branco, cujos elogios atestavam bem o seu enorme talento literário. De resto, conforme era frequente à época, Guiomar correspondia frequentemente com outros escritores, fazendo integrar na sua rede de relacionamentos figuras como os já mencionados Fialho de Almeida e Camilo Castelo Branco, para além de Alexandre Herculano, Amélia Janny, Augusta Plácido, António da Costa, António Ennes, Bulhão Pato, João de Deus, Júlio de Castilho, Tomás Ribeiro ou Trindade Coelho. 
Entre o seu vasto corpo de trabalho, relevam-se os romances Uma Alma de Mulher, Rosas Pálidas, A Família Albergaria, Meteoros, Idílio à Inglesa, No Teatro e na Sala, Paris, Batalha da Vida e Flávia, bem como as peças de teatro O Século XVIII e o Século XIX, Às Dez da Noite, Amor de Filha e Educação Moderna - todas elas encenadas em teatros lisboetas - e as operetas Pela Boca Morre o Peixe e Fúrias de Amor.
Paralelamente à sua carreira literária, Torrezão mostrou-se ainda politicamente activa, tendo apelado - por intermédio da publicação de diversos artigos nos jornais A Voz Feminina/O Progresso e no Almanaque das Senhoras, que  e da colaboração com a revista feminista brasileira A Mensageira – à urgência de transformações sociais que conduzissem à emancipação feminina. Considerava, de resto, que a igualdade de género é o verdadeiro motor do progresso e da exaltação da humanidade.
Morreu a 28 de Outubro de 1898.

Em Cascais, na freguesia do  Estoril, em 1976, foi-lhe atribuída uma rua com o seu nome. Também em Lisboa, na freguesia de Carnide, lhe foi atribuída uma rua com o seu nome,

 

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