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Antónia Getrudes Pusich (1805-1883)Portuguese Journalist. Antónia Pusich was the first portuguese female journalist. Antónia Pusich was born on the 10th January of 1805 in the island of S. Nicolao, Cape Verde archipelago, a Portuguese colony at that time. Antónia Pusich died in Lisbon on the 10th of June of 1883 . *****
Muitos, variados e, por vezes, inesperados são os atributos que se ligam ao nome de Antónia Gertrudes Pusich (1805-1883). Esta mulher de descendência luso-croata, mãe de seis filhos e esposa de três maridos com vidas públicas importante e por vezes atribuladas, foi jornalista, fundadora e editora de jornais, romancista, dramaturga e poetisa, pianista e compositora, crítica literária, musical, teatral e artística, educadora, lutadora pelos direitos de todos os desfavorecidos, feminista, a Venerável da Primeira Loja Maçónica Portuguesa Feminina, em suma, mulher de talentos múltiplos e força inabalável que viveu intensamente a sua época e deixou legado cultural referente a quatro países diferentes: Cabo Verde, Portugal, Brasil e Croácia. Embora a sua obra ainda careça de mais investigação, é de notar a sua presença no espaço cibernético com 3130 resultados para «antónia pusich», e 610 para «antonia gertrudes pusich», encontrando-se entre eles resumos biográficos, análises da sua vasta obra do ponto de vista literário, educacional, social ou político, ou comentários e notícias sobre acontecimentos mais generalizados e/ou efemérides em que foi homenageada. Filha da Portuguesa Ana Maria Isabel Nunes e de Antun Pusich, Chefe de Esquadra de Armada Real e Governador de Cabo Verde, amigo da Rainha D. Maria I e do Rei D. João VI, nascido e criado em Dubrovnik, Croácia –República da Ragusa na altura, e parte do Império Áustro-Húngaro depois das Invasões Napoleónicas, Antónia Gertrudes viu já o seu nascimento eternizados na Capela do Santo António dos Navegantes que o pai mandou construir no Porto Preguiça na Ilha de São Nicolau. Passada a infância feliz e despreocupada em Cabo Verde, preenchida pelo estudo e pelas aprendizagens em trabalho social e político que fazia junto do pai, Antónia retorna, em 1821, junto com a família a Lisboa onde, infelizmente, começa uma série de peripécias e infortúnios familiares, principalmente derivados da Guerra Civil portuguesa (1828 a 1834). Apesar disso, consegue, graças à sua erudição e enorme força de vontade, conquistar o estatuto da primeira escritora profissional portuguesa, fundar e editar três jornais com fins literários e instrutivos: A Assembleia Literária – Jornal de Instrução (Lisboa, 1849?-1851), A Beneficência – Jornal Dedicado à Associação Consoladora dos Aflitos (Lisboa, 1852-1855) e A Cruzada – Jornal religioso e Literário (Lisboa, 1858), e merecer a companhia, o apoio e a admiração de figuras públicas como Almeida Garrett, Alexandre Herculano, António Feliciano Castilho e Fontes Pereira de Melo. Entre as suas produções literárias destacam-se o romance gótico em versos Olinda ou a Abadia de Cumnor-Place (1848), o poema baseado em lenda portuguesa A Torre do Fato (1844-1845), o romance amoroso Dois mistérios, o drama em três atos Constança ou amor maternal, a biografia do seu pai, a sua obra mais popular – Biografia de António Pusich. Contendo 18 documentos de relevantes serviços prestados a Portugal por este ilustre varão. Resumo da História da Republica de Ragusa e sua literatura antiga por D. Antónia Pusich (1872), e uma série de produções poéticas de circunstância e homenagem, religiosas, morais, sociais e amorosas. À toda a sua obra escrita subjaz o seu «manifesto literário» que exalta a dimensão utilitária da literatura e a responsabilidade social do escritor, e até sacrifica, quando necessário, a estética em prol da mensagem moral ou educativa, misturando, assim, os estilos barroco e romântico, e distinguindo-se por isso de todos os românticos portugueses e lusófonos. O mesmo se aplica também à sua atividade jornalística e editorial, na qual é outra vez pioneira: a primeira jornalista portuguesa e lusófona que se assume como mulher e assina os seus textos com o nome e apelido verdadeiros e completos. Mas a sua atividade jornalística também assenta em convictas atitudes sobre a necessidade de independência política e de liberdade de expressão do jornalista, num envolvimento constante nas questões sociais da época, sobretudo na educação das mulheres e dos pobres, na denúncia da injustiça social, na exigência de transparência política e de moral pública, na fé religiosa e no amor à nação. Assim, num artigo em sua homenagem da Revista A Rua em 16 de março de 1978 pode ler-se: «Envelheceram os seus poemas, incapazes de sobreviver à era romântica que os inspirou; esqueceram-se, há muitas décadas, as suas composições musicais, e os seus concertos de piano; ninguém quereria agora levar à cena, como Garrett o fez, o seu drama ‘Constança’. Nos arquivos de quase todos os jornais da época – onde os houver – poder-se-á, no entanto, ler com frequência o seu nome e apreciar uma capacidade descritiva, uma sagacidade crítica e um vigor polemístico que podem servir de modelo às novas gerações, […]. […] não precisou Antónia Pusich, para ser uma verdadeira intelectual, para ser mesmo a primeira jornalista portuguesa, de vestir calças, de escandalizar a sociedade, de renegar a família, de esquecer a sua nobilíssima condição de Mulher.» In memoriam ficaram também uma placa na casa onde faleceu, na Rua de São Bento 238 em Lisboa, e três ruas com o seu nome: uma no Bairro de Alvalade em Lisboa, outra na Charneca de Caparica em Almada, e ainda outra em Pinhal General em Seixal.
References - Antónia Pusich, portal O Leme.
- Antónia Gertrudes Pusich, Cape Verde History Uneartherd.
- Antónia Pusich, Obras digitalizadas, Biblioteca Nacional de Portugal.
- TALAN, Nikica, In memoriam à esquecida Antónia Gertrudes Pusich, SRAZ L, 2005, pp. 145-192.
- Rua Antónia Pusich, Toponímia de Lisboa.
- LOUSADA, Isabel, CHAVES, Vânia Pinheiro, As mulheres e a imprensa periódica, CLEPUL, Lisboa, 2014.
- COSTA, António da, A Mulher em Portugal, Lisboa, Livraria Férin 70, 1983.
- CALIXTO, Maria Leonor, A Literatura “Negra” ou “de Terror” em Portugal nos Séculos XVIII e XIX, Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1955.
- LAMAS, Rosemarie Wank-Nolasco, Mulheres para além do Seu tempo, Lisboa, Bertrand Editora, 1995.
- RAPOSO; Cunha A, «Esquecida Antónia Pusich», Rua, 16 de março de 1978.
- TALAN, Nikica, Antonia Pusich – Život i djelo (Antónia Puscih – Vida e Obra), Zagreb/Dubrovnik, Hrvatska Akademija znanosti i umjetnosti / Zavod za povijesne znanosti u Dubrovniku (Academia Croata das Ciências e das Artes / Instituto das Ciências Históricas de Dubrovnik), 2006.
- TALAN, Nikica, «Život i djelo Antónije Gertrudes Pusich u kontekstu portugalske književnosti XIX. stoljeća» («Vida e Obra de Antónia Gertrudes Pusich no Contexto da Literatura Portuguesa do Século XIX»), Izmedu Hrvatske i Portugala (Entre a Croácia e Portugal), Hrvatsko filološko društvo (Associação Filológica da Croácia), Zagreb, 2009.
Acknowledgments: The biography of Antónia Pusich was written by Arijana Medvedec (CLEPUL-FLUL, CIDH-UAb).
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